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"... UM ACONCHEGO, UM CAFUNÉ
VOCÊ ME DÁ?
UM CHAMEGO, UM XODÓ
VIXE TÁ DOENDO AI, AI,
SEM VOCÊ VIVO TÃO SÓ..." 
(UM CAFUNE-Adilson Rodrigueiro)




Cafuné: carinho e cultura

O cafuné, ato de coçar levemente a cabeça de alguém, dando estalinhos com as unhas para fazê-lo adormecer (Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa), é tema de micro monografia publicada pelo Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, através do Centro de Estudos Folclóricos.

O trabalho é do pesquisador Hugo Pedro Carradore, de São Paulo, que explica que o cafuné — para nós uma atitude de carinho — foi trazido pelos negros de Angola. No quimbundo — kifune, de kufunata, torcer, vergar. Em banguela entre os umbundos, xicuanli; para os quiocos e lundas, coxoboleno.

Cafuné à brasileira
Segundo a micro monografia, o elemento africano concorreu de forma marcante para os usos e costumes brasileiros. A imigração negra, cada vez mais intensa do Brasil-Colônia ao Brasil Império, o comércio de escravos, agigantando-se para atender às necessidades dos "senhores de engenhos" e, posteriormente, aos "barões do café", deixaram como herança ao espaço cultural brasileiro, idéias e atitudes, os quais podemos reconhecer sem muito esforço. O cafuné foi, para a sociedade dos sobrados e das casas-grandes, a indispensável distração, como foram os bailes e os teatros, para a elite européia naqueles tempos.
Em 1864, o jornalista e romancista francês Jean Charles Marie Expilly, que esteve no Brasil por longo período, publicou, em Paris, livro intitulado Les femmes et les moeurs du Brasil, dedicando um trecho ao cafuné. Em 1941, o historiador Roger Bastide dedicou-lhe uma obra: Psicanálise do cafuné. De 1864 pra cá, muita coisa mudou. Naquele ano, o escritor francês dizia em sua obra: "Mesmo os homens não desdenham, durante as horas de lazer, a carícia de uns dedos ágeis, afagando suas cabeleiras. Um delicioso arrepio corre-lhes pelo corpo, cada vez que sentem o ruído, significativo das unhas das mucamas, a que acima me referi. Poderia citar um senhor casado com uma mulher pequenina, graciosa, espiritual e delicada o quanto possível. Pois bem, esse engraçado abandonava a gentil companheira e sacrificava-se por uma negra medonha, que exalava, um cheiro abominável de almíscar e de catinga, simplesmente por ser a escrava que melhor fazia o cafuné". 
Hoje o cafuné já começa a cair no desuso.  
Fonte: http://www.jangadabrasil.com.br/revista/janeiro74/pa74001b.asp 


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